Da porta ao pequeno muro, 29 de Março de 2020
Terminal rodoviário vazio. Três pessoas seguindo viagem num ônibus de 46 lugares e, claro, o motorista na direção. Não houve objeção de que minha mala gigante fosse na parte de cima.
- Em dias normais eu implicaria. - Ele disse.
Anormalidade. Já estamos nos adaptando à transformação? Poderia ser mais um vespertino domingo "normal" se não fosse pelo fato de que a rotina tem mudado.
Muitas pessoas estão em suas casas.
Outras são obrigadas a sair.
Há aqueles que estão com seus; viajaram para estarem juntos.
Alguns não têm ninguém.
Penso na contradição das questões. Em como poderemos ser e como nos enxergaremos daqui para frente. Reflito sobre meu psíquico e o dos outros. Observo a crueldade do sistema frente aos que não têm condição nenhuma de sobreviver.
Acho que aquele professor que chorou numa aula ao dizer que a mudança civilizacional está acontecendo estava certo demais. Se não olharmos uns para os outros e enxergamos quem realmente são os nossos inimigos, estaremos perdidos. Talvez você pense que não faça sentido essa mistura de problemas ao qual implicitamente me refiro. Bem, eles fazem.
Na velocidade daquele ônibus, da janela, da poltrona, na minha chegada e no costumeiro andar dos dias, aqui me volto para o amontoado de coisas que somos, do que precisamos e do que resistimos. Só basta você abrir os olhos.
Somos transeuntes, andantes, agentes se quisermos ser.
Votos de bem-estar.
Vermelha